“Enzo, 10 anos, começou sendo: "o menino dos conflitos", "aquele que só pensa em futebol"... Quando percebeu que na oficina de artes não havia lápis de escrever e nem borrachas, irritou-se. Se fosse para desenhar, que pelo menos fizesse algo "super legal". Pegou um lápis por conta própria e tentou. Mas a frustração veio rápido. Rasgou um, dois, três papéis. "Eu não sou bom", repetia. No encontro seguinte, ainda relutante, aceitou um desafio: pintar de olhos vendados. Quando retirou a venda, viu um mundo de cores diante de si. Pela primeira vez, Enzo sorriu na oficina. A partir dali criou artes sem medo, sem pressa, sem a necessidade de "ser bom". O menino inquieto encontrou no abstrato um espaço seguro. Passou a pedir sempre "mais uma folha", e suas pinturas se tornaram tão autênticas que todos sabiam, de longe, quais eram as dele”.

“Na calçada em frente a Passos, entre o vai e vem da vila, o Carrinho Fantástico chama atenção, uma biblioteca itinerante que carrega livros e novas possibilidades. A organização realizou intervenções literárias, transformando sua fachada em um ponto de encontro para os moradores da favela. Por ali, entre cadeiras improvisadas e páginas viradas, a ficção e a realidade se misturaram. Entre os frequentadores do Carrinho Fantástico estava Adelaide, uma figura que carrega a poesia no olhar e a força no trabalho com a coleta seletiva. Admiradora da literatura, especialmente dos romances de Paulo Coelho, Adelaide dizia... “Ler faz bem para as pessoas e principalmente para as crianças”, como quem entende que cada história lida também é uma história vivida. Adelaide, com suas escolhas de leitura, inspira outros trabalhadores, familiares e até aqueles em situação de rua a folhear um livro e a descobrir nas palavras um lugar de refúgio”.